A língua Arara (Pano) é falada no alto do rio Juruá, Estado do Acre por quatro comunidades indígenas; no Igarapé Humaitá e no rio Bagé. Os grupos que se encontram no Igarapé Humaitá são conhecidos como Shawãdawa, enquanto os moradores do Bagé são chamados de Jamináwa-Arara. Todavia, é relevante dizer que em ambos os lugares encontram-se descendentes do grupo Arara, ou seja, falantes da língua Shawã.
Com a finalidade de descobrirmos quantos são os falantes da língua Arara, utilizamos o apoio dos questionários sociolinguístico, e pudemos entrevistar um universo de 200 pessoas em 100 casas das aldeias supracitadas. Entretanto, muitos indígenas não participaram das entrevistas, uma vez que eles se encontram nas cidades vizinhas, como Porto Walter, Cruzeiro do Sul e Rio Branco.
A propósito da língua deste grupo, quase todos falam português e poucos falam ou compreendem ãda shawã. De acordo com a literatura, o Arara é uma língua ameaçada de extinção, uma vez que possui poucos falantes, sendo a maioria já idosos. Todavia, um esforço para se manter viva a língua tem sido feito; muitos projetos de registro e documentação vem sendo desenvolvidos para inventariar tanto a língua como a cultura Shawãdawa, bem como a implementação do ensino bilíngue na escola indígena. A seguir mostraremos um panorama sociolinguístico do povo Arara-Pano.
Situação sociolinguística.
A língua de prestígio em qualquer comunidade do povo Arara é o português, por isso o uso do idioma nativo é pouco frequente. Na região do Bagé, encontram-se três anciões falantes da língua, entretanto eles vivem em aldeias distintas e por isso raramente eles falam apenas em Arara. Já na região de Humaitá vivem outros falantes, que estão dispersos na área indígena.
Contudo, configura-se uma situação interessante a respeito da língua. Somente os anciões são bilíngues; os adultos falam português, todavia observa-se a presença de várias palavras emprestadas do idioma Arara acoplados ao vocabulário deles. Por sua vez as crianças não falam, mas algumas compreendem os comandos dos velhos na língua nativa. Pelo fato delas viverem mais próximas aos idosos, além de entenderem e executarem os comandos dos velhos, elas também aprendem músicas e histórias. Vale à pena aqui mencionar que tais histórias e mitos ora são narrados em português ora na língua indígena.
Ainda as mulheres indígenas casadas com índios apresentam uma compreensão melhor da língua Arara, já as mulheres casadas com não índios apresentam um domínio e um interesse menor pela língua nativa. Os homens casados com não índias apresentam-se interessados em aprender a língua de seus avós.
Os jovens, por sua, vez, entendem a importância de se manter viva cultura/língua e buscam com frequência cursos de formação, junto ao estado e/ou universidades, para que junto aos falantes, eles possam acrescentar ao acervo cultural do povo. Todavia, o conhecimento linguístico da juventude ainda limita-se em palavras ou frases isoladas.
Assim sendo, observa-se que o uso do português é frequente, e o uso do Shawã limita-se nas seguintes situações:
- quando os velhos embalam crianças para dormir;
- em raros encontros que há possibilidade de estar vários falantes em um mesmo ambiente;
- entre casais de velhos.
Como observamos, a língua Arara resiste em alguns contextos, e o português domina a maior parte dos eventos de fala das comunidades, inclusive no âmbito da educação formal, pois em todas as aldeias há escolas criadas pelo Estado do Acre; todavia as aulas são ministradas em português.
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