De acordo com o senso realizado entre os meses de fevereiro a abril de 2010, o total da população é aproximadamente de 880 pessoas; distribuídas da seguinte forma: Humaitá 660 e Bagé 220. Na região de Humaitá encontram-se as aldeias São Luís, Raimundo do Vale, Aldeia da Paz, Bom Futuro, Matrinchan e Novo Acordo. Esta última no rio Val Paraíso, afluente direto do Juruá.
De acordo com o senso realizado entre os meses de fevereiro a abril de 2010, o total da população é aproximadamente de 880 pessoas; distribuídas da seguinte forma: Humaitá 660 e Bagé 220. Na região de Humaitá encontram-se as aldeias São Luís, Raimundo do Vale, Aldeia da Paz, Bom Futuro, Matrinchan e Novo Acordo. Esta última no rio Val Paraíso, afluente direto do Juruá.
No que concerne a alguns hábitos dos Shawãdawa, este grupo possui a atividade da caça, pesca e coleta de frutos da mata. Ainda cultivam a mandioca para produção de farinha e criam galinhas e porcos para o abate. Das frutas coletadas, usa-se a bacaba, açaí e o patoá para fazerem bebidas; e o mingau de banana é uma das tantas iguarias feitas pelas mulheres Arara.
História da formação da Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá - Acre / Brasil
Narrado por Deá Ãdihu
No rio Valparaíso, especificamente no igarapé Curaca, no ano de 1953 nasceu Deá Ãdihu (Francisco Varela). Este homem constituiu-se a primeira liderança do povo Shawãdawa no alto Juruá, no estado do Acre.
Ainda criança, com apenas dois anos de idade, Deá Ãdihu morava na colocação Brejo, localizada no igarapé da Paz. Foi nesta colocação, no ano de 1955, que seu pai foi morto por um não-índio. O motivo de sua morte ainda é desconhecido, justifica-se que o acontecimento foi um acidente, pois o homem branco, ao caçar alimento na mata, confundiu Deá com um veado. Depois da morte de seu pai, Deá Ãdihu passou a ser criado por seu avô Napoleão Pereira Lima da Silva que o levou para viver junto dele em outro lugar.
Desse modo, o menino e todo restante de sua família passaram a viver às margens do rio Bajé, na colocação chamada Canindé. Ali, eles permaneceram pouco tempo, seis meses apenas. Mudaram-se, então, para uma nova colocação denominada Bananal; o motivo do deslocamento foram as melhores condições para se encontrar alimento e caçar.
Alguns anos depois, já aos 10 anos de idade, Deá Ãdihu sentiu o desejo de voltar para o lugar onde nasceu. Entretanto, ele permaneceu na região onde seu avô se encontrava, isto é, na bacia do rio Bajé, e aos 13 anos ele se casou com Kawarãdi, Maria Eliza Cazuza, e mudou-se para colocação Bahia, também no rio Bajé.
Por motivos de doenças, como por exemplo, sarampo, malária, ele foi forçado a mudar-se para colocação Torre da Lua, agora no ig. do Nilo, onde permaneceu por dois anos apenas, pois voltou para a colocação do Brejo, porque neste lugar havia mais espécies de seringa, fornecendo látex em maior abundância. Neste lugar ele trabalhou durante 3 anos sob os comandos do patrão Genaro.
Em meados da década de 1980, numa viagem que fez à cidade de Cruzeiro do Sul, ele conheceu um indígena Katukina que o convidou para morar com ele em sua comunidade, na BR 164. Foi durante sua permanência na cidade que ele soube que o governo havia reconhecido e demarcado a Terra desse povo. Nesta ocasião, teve contato com os funcionários da FUNAI, M. e T. que lhe confirmaram o direito à terra para o seu povo. Assim, no ano de 1983 uma comitiva (FUNAI e INCRA) se deslocou para o lugar onde se encontravam os Shawãdawa (Arara) para informar ao patrão do seringal que aquela terra pertencia aos indígenas e doravante somente poderia haver o cultivo tradicional, principalmente a macaxeira.
Durante esta visita, os funcionários da Funai disseram que a terra original do Shawãdawa era a região do rio Bagé, pois o rio Cruzeiro do Vale, segundo a FUNAI, pertencia ao povo Jaminawa. Todavia, Deá Ãdihu, esclareceu que os Shawãdawa viviam nas duas bacias hidrográficas, a saber: a do Cruzeiro do Vale e a do Bagé. A partir disso, houve a proibição dos não-índios de adentrarem em terras reconhecidas aos Shawãdawa, ou seja, a margem direita do rio Cruzeiro do Vale até a nascente do Nilo.
Como foi dito anteriormente, Deá Ãdihu passou a resolver todos os assuntos concernentes ao seu povo. Sendo assim, ele estabeleceu-se na Foz do Nilo e ocupou o engenho de açúcar do patrão Genaro e, de posse do lugar, convidou seus parentes para morarem naquela terra. Foi nesta ocasião que um tio que morava na colocação Caximbo, braço esquerdo do Bagé, e sua tia Kushí, que morava na colocação Solidão, no igarapé Rio Branco, deslocaram-se para Cruzeiro do Vale. Além dessas duas famílias, ele ainda convidou o restante dos parentes que estavam na colocação Água do coco, no rio Liberdade e todos também ocuparam o lugar que foi mencionado.
No ano de 1986, após a visita de sua mãe a cidade, os representantes da FUNAI, voltaram ao recente aldeamento que surgia para a primeira reunião do povo Shawãdawa, onde foi decidido que Deá Ãdihu seria o representante geral da comunidade, ou seja, o cacique da aldeia. Também ficou estabelecido que Shawã Kayá (Arara Verdadeiro), Jorge Varela, seria o agente de saúde e Eutsãdi, Antonio Pereira, o professor da escola, em função da distância da escola dos não-índios.
Aparentemente, após a resolução dos primeiros problemas, os Shawãdawa se empenharam em iniciar uma vida melhor sem patrão, sem cativeiro e proprietários de sua própria terra. Todavia, no ano de 1987 Deá Ãdihu foi destituído da função de cacique e o novo representante passou a ser seu irmão, Shawã Kayá. Assim, o antigo cacique se mudou para o ig, Valparaíso, na colocação Novo Acordo, que naquele momento transformou-se aldeia. Ao chegar lá passou a se relacionar com seus vizinhos não-índios e foi convidado para uma reunião na colocação São José. Nessa reunião foi escolhido o delegado do sindicato Damião Gonçalves e com o apoio dele Deá Ãdihu foi eleito a nova liderança da região.
Não demorou muito tempo, a nova liderança rompeu com os patrões pelo motivo de entender que os Shawãdawa ocupavam um território muito pequeno e haviam necessidade de ampliar este lugar. Por isso, Deá Ãdihu procurou a FUNAI e convidou os representantes para visitarem o lugar onde eles estavam, agora na colocação Alegria, por estar mais próximo ao rio Valparaíso e consequentemente da cidade de Cruzeiro do Sul.
Este fato causou uma revolta nos não-índios ocasionando um conflito e teve como ápice a agressão do não-índios contra Deá Ãdihu. Mesmo assim, ele não se intimidou e continuou a lutar pela posse da terra. Ao retornar a Valparaíso, poucos dias depois ele recebeu uma carta o convocando de novo à cidade. Ao retornar a Cruzeiro do Sul ele se encontrou com um advogado que o levou a um cartório e disse que resolveria o conflito pois reconhecia o direito à terra dos indígenas. Assim, eles tiveram um novo parceiro na luta pelas novas terras. O advogado foi pago com um Jabuti. Animado com as boas notícias e já pronto para retornar à aldeia, em seu barco, Deá Ãdihu foi abordado por dois policiais e foi convidado a entrar no carro onde encontrou o patrão Lino que perguntou com tom de ameaça – porque ele havia dito que as terras de Valparaíso eram dos índios? E por causa disso eles iriam resolver esta questão na delegacia. Entretanto, chegando lá, não se discutiu nada e o prenderam sem justificativa. Depois de preso, o delegado foi visitá-lo na cela e perguntou se não havia nenhum representante da FUNAI na cidade de Cruzeiro do Sul, ele respondeu afirmativamente. O delegado perguntou ao Deá Ãdihu se queria que a Funai soubesse de sua prisão. Ele disse que sim. Não Passou muito tempo, o funcionário da FUNAI chegou e mandou soltar o Deá Ãdihu, que voltou para sua terra.
Junto aos parentes, contou os acontecimentos, mas somente em 1995 que os representantes da FUNAI e do INCRA apareceram para se reunir com os Shawãdawa de Valparaíso. Nesta reunião eles procuraram saber quais terras eles estavam caçando, plantando e vivendo. Constataram, então, que haviam indígenas ocupando terras não demarcadas e ainda nesta reunião uma comitiva, liderada por José Maria, Kati na língua Shawã, subiu o rio Valparaíso para reconhecer esta bacia como pertencente aos Shawãdawa. Todavia, somente nos primeiros anos do novo século XXI foi delimitada a Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá.
Deste modo, os Shawãdawa conquistaram o seus direitos à terra e atualmente encontram-se 3 comunidades e 5 aldeias, sendo elas respectivamente: Foz do Nilo, Raimundo do Vale e Novo Acordo; Santo Antônio, Paz, Bom Futuro, Matrinchã e São Luiz.
Narrado por Deá Ãdihu (Francisco Varel) e coletado por Peramaratehun (Josué de Lima Nogueira) durante a oficina de Etnogeografia, realizada na comunidade Raimundo do Vale, em fevereiro de 2010.
Transcrito por João Paulo Jeannine e Emerson Carvalho.
História do contato Shawãdawa.
Atualmente, o povo Arara para negociar com a sociedade não índia, organizou um associação do povo Shawã. A sede da associação está na aldeia de Raimundo Vale e é neste local que se escoa o que é produzido por cada família. Por meio da associação os produtos são vendidos e o lucro é repartido entre eles.
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