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Língua

Os Rikbaktsa falam uma língua que recebe o mesmo nome; é a única língua da família, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê. O padre Dornstauder – empreendedor das expedições que tentavam contatá-los amigavelmente em meados do século XX - supunha, primeiramente, serem um grupo Tupi, Parintintin ou Kawahib. A classificação da língua Rikbaktsa apresentou por muito tempo uma série de incongruências com relação a tronco e família. Sua classificação no tronco Macro-Jê não fora, desta forma, imediata. A partir da reconstrução do Proto-Jê feita por Davis (1966 apud Boswood 1972), Boswood (1972) constata a grandeza de 38% de cognatos comuns entre a proto-língua e o Rikbaktsa, enquanto para línguas de outras subfamílias este número chegaria a 60%, no máximo. O Maxakalí e o Karajá, por exemplo, partilhariam cerca de 25% de cognatos com o Proto-Jê (cf. Boswood 1972: 70). A classificação da língua Rikbaktsa como pertencente ao tronco Macro-Jê é, portanto, proposta por Boswood (1972) e confirmada por Rodrigues (1986).

Com relação à realidade sociolinguística, tendo que a língua aparece na classificação da UNESCO enquanto fortemente ameaçada de desaparecimento (UNESCO, 2009), ela é bastante complexa e heterogênea. Em termos gerais, pode-se afirmar que a situação sociolinguística atual é caracterizada pelo predomínio de bilinguismo no caso dos mais velhos, que falam Rikbaktsa e Português, e de monolinguismo em Português dos adultos com menos de 40 anos, dos jovens e das crianças (cf. Silva, 2005). 

Há, entretanto, muitas nuances entre o falar, o compreender e não falar, e o não-falar dos mais diversos grupos etários e dos diferentes sexos. Aqueles nascidos durante os primeiros contatos missionários e que foram alijados de suas aldeias quando ainda crianças não falam a língua nativa ou trataram de reaprendê-la, ao retornarem ao convívio das aldeias. Alguns velhos pouco falam e pouco entendem do Português. A maior parte dos mais jovens, crescida e educada nos arredores do posto jesuítico do Barranco Vermelho, que mais tarde se tornaria aldeia (cf. Arruda, 1996, Athila, 2006), apesar de compreenderem perfeitamente a língua Rikbaktsa, evitam se expressar no idioma materno. Os filhos destes jovens, de uma maneira geral, não têm sido socializados na língua materna, principalmente aqueles que vivem em famílias nucleares, longe de avós e bisavós. Desta forma, seu contato com o idioma nativo é muito menos constante do que o recomendável. 

Em tempos onde testemunhamos alterações como a conversão, o desaparecimento de ritos e a dissipação de tantos saberes entre populações ameríndias que, contudo, mantém seus idiomas maternos, os Rikbaktsa apareceriam, no mínimo, como um caso interessante. Na casa dos homens (mykyry), onde fazem plumárias, flechas, degustam caças das quais contam os pormenores das caçadas e onde se ensina mais intensamente todas estas atividades aos mais jovens, o idioma Rikbaktsa é predominante. Dentro das casas podemos ouvir tanto o Rikbaktsa quanto o Português, a depender de sua composição incluir ou não membros de mais idade.

A preocupação dos mais velhos com a possível quebra na condução de ritos e propagação de tantas outras modalidades de saber tem sido evidente, bem como a “perda da língua”, donde se pode citar o amplo apoio que tem recebido tanto o Projeto de Documentação da Cultura, quanto o Projeto de Documentação da Língua Rikbaktsa, ambos desenvolvidos entre este povo, no âmbito do Projeto de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas Brasileiras.

Perfil Tipológico da Língua - julho/2011

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