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Povo

Localização População | História | Organização Indígena

 

Localização

O povo Desano, falante da língua de mesmo nome vive em cerca de 21 comunidades espalhadas entre os rios Papurí, rio Tiquié e rio Vaupés; na região do Noroeste Amazônico, no Brasil e na Colômbia.

Desano é membro da família linguística Tukano, do grupo Tukano Oriental (TO). Os falantes das línguas TO vivem em comunidades ao longo do rio Vaupés e seus afluentes, nos territórios brasileiro e colombiano. 

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No Brasil, a língua Desano é falada em cerca de 16 comunidades assim divididas:

  • 3 comunidades na região do rio Papurí,
  • 8 na região do rio Tiquié e
  • 4 no rio Vaupés.

Existem também 5 comunidades na margem colombiana do rio Papuri e seus igarapés, e no alto Vaupés, também na Colômbia.

A maioria dos falantes fluentes de Desano no Brasil vivem em duas comunidades no Rio Umari (afluente do Rio Tiquié): São Sebastião e Tucandira (cerca de 30 falantes), os demais vivem em comunidades às margens do Rio Tiquié, Rio Vaupés, com uma concentração grande de Desano no Distrito de Iauaretê (cerca de 50 Desano dentre os quais, cerca de 20 falam a língua). No Rio Papuri, as comunidades Desano encontram-se, principalmente, no lado colombiano e o número de falantes nessas comunidades ainda não foi levantado.

 

População

O levantamento sociolinguístico realizado pelo coordenador do Projeto Desano, Wilson Silva, em 2010 nos rios Uaupés, Tiquié e Papurí (no Brasil), constatou que o número de pessoas que se identificam como falantes fluentes é de aproximadamente 80 e 447 de não falantes, totalizando um número total de 527 pessoas do grupo Desano (pretende-se fazer um levantamento sociolinguístico nas comunidades Desano na Colômbia para se chegar a um número mais acurado). Foram realizadas visitas às comunidades Desano no lado colombiano do rio, e estima-se que o número de falantes nessas comunidades seja de cerca de 120 pessoas. Muitos dos Desano estão abandonando suas comunidades tradicionais e sua língua. Quando isto acontece, a língua perde espaço para o Português (ou para o Espanhol). Nas comunidades Desano, a língua está perdendo espaço para o Tukano, a língua dominante na região.

Baseando-se nos levantamentos sociolinguísticos e entrevistas realizados nos meses de junho e julho de 2010, nota-se que o número de falantes fluentes da língua é consideravelmente pequeno (cerca de 80 pessoas no Brasil e estimamos que existam cerca de 120 nas comunidades no território colombiano); entretanto o número de pessoas que se identificam como membros do grupo ético Desano é considerável, estimamos que seja cerca de 2.500 (no Brasil e na Colômbia).

A idade média dos indivíduos que são fluentes na língua é de 30-35 anos. Os falantes de Desano estão trocando para Tukano na maioria das comunidades Desano. Com exceção do Tukano, que, entre os diferentes grupos, é considerada como a 'língua franca' na região, todas as demais línguas da família Tukano Oriental estão em perigo de extinção. O Português (ou Espanhol) é usado para a comunicação com os não-índios. Os trabalhos de documentação em Desano só tiveram inicio em 2007.

Se considerarmos os critérios de classificação dos níveis de perigo proposto pela UNESCO para línguas ameaçadas, pode-se afirmar que a língua Desano encontra-se entre os níveis ‘moderado’ (moderate) e ‘altamente em risco’ (severely endangered). Entretanto, as mudanças de atitudes em relação à língua nos últimos quatro anos indica que há possibilidades promissoras para a revitalização e preservação da língua nas comunidades Desano. Isso mostra que o Projeto Desano pode contribuir positivamente na preservação dessa língua.

 

História

Antigamente os clãs desana habitavam numa casa comunal (maloca) em que viviam diversas famílias de parentes. O chefe era respeitado por todos membros da maloca, “antes não tinha destruição porque não tinha chegado os padres, era tranquilo. Uma vez eu vi, era pequeno estavam nossos avós, desana do umari. Acima de Pari cachoeira tinham malocas...tinha época de frutas, como neste tempo de natal, frutas do mato, em setembro eles organizavam uma festa de dabucuri, dança, instrumento como flautas sagradas, quando pegavam muito peixe fazia dabucuri com Porelõ (um tipo de flauta sagrada) porque naquele tempo não tinha chegado civilização moderna. (palavra de Feliciano Lana)

Os clãs Desana dividem-se cinco famílias com funções bem definidas e distribuídas desde o ancestral “Boleka”. A família desana Boleka (chefe) e seus avôs moravam somente em uma Maloca e depois conforme o crescimento de números de pessoas na família foram-se dividindo e mora em outras malocas. A descendência é patrilinear. Os indivíduos geralmente falam a língua materna e paterna. Cada época ofereciam larvas de borboletas comestíveis (‘ii’ em desana). Eles tinham uma pessoa exclusiva para curar e prevenir doenças, reconhecida pelo clã. E também procuravam remédios do mato para doenças de pele e de higiene. Não existiam doenças como a varíola, tuberculose e diarréia com sangue. A tuberculose era temida por desana porque o pajé e o kumu fazia estrago para as pessoas ficar doente. A pregação através de parábolas, respeito ao outro, como, às viúvas e às crianças a exemplo de Luis Lana “via o meu pai Firmiano Lana”, achava muito bom. E fazia comparações com pregação de padres e freiras tinha semelhança na evangelização. Só que os missionários diziam que as fábulas, a dança, os contos, a música e os benzimentos eram coisa do diabo. (palavras de Luis Gomes Lana)

Entre 1930-1970 a ideologia messiânica por meio missionários e a tentativa de acabar a cultura dos povos rionegrinos, chamando de coisa diabólica. Os desana não resistiram a imposição de destruição com rituais sagrados dos antigos, porém restaram pelo menos; canto, a dança, a língua a prática de fazer artesanato de warumã, artefatos de caça e pesca, conhecimento das bases alimentares da economia primária.

A questão cultural, da miscigenação com brancos, iniciou nos anos 70 com a chegada de empresas construtoras e quartéis militares na região do Alto Rio Negro e continua acontecendo com mais frequência e a identidade originária aos poucos vai se cedendo para nova aparência (fisionomia) e a língua paterna dos desana foi substituído pela língua tukano e português. Desde 1980, os desana tomaram iniciativa de escrever sua própria história, quando foi publicados a Narrativa Mitológica dos Desanas de Umusin Palon Kumu e Tolaman Kenhiri o livro “Antes o Mundo Não Existia” com ilustrações de Feliciano Pimentel Lana e apresentação da antropóloga Berta Ribeiro/URJ na Editora Cultura; Américo Fernanfes e Durvalino Moura Fernandes no livro “História Sagrada dos Duhputiro porã” em 2002 e Venceslau Galvão e Raimundo Galvão no “Livro dos Antigos Uhari” em 2005, com organização e apresentação da antropóloga Dominique Buchillet/França. (Coleção de Narradores Indígena do Rio Negro FOIRN/ISA). ( Texto de José Maria Lana).

 

Organização Indígena

Desde 2008, realizamos trabalhos de colaboração significativos entre os membros das comunidades Desano e pesquisador Wilson Silva. Em 2009 estabelecemos a ‘Comissão Desano’ – um grupo formado por seis lideranças Desana que representam o anseio do grupo. O povo desano tem uma participação ativa nas atividades do projeto e disseminação de resultados (produtos).
 

Nós, Desanos, temos o apoio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) para nos auxiliar na captação de recursos e apoio para a realização de atividades nas nossas comunidades. Nós temos nos preocupado com a perda da nossa língua e estamos interessados na documentação e revitalização da mesma. Em 2007, através da FOIRN, solicitamos que o pesquisador Wilson Silva nos assessorasse nas questões linguísticas e supervisionar os trabalhos com o grupo Desano.

As lideranças e membros das comunidades Desano apoia o Projeto de Documentação da Língua Desano. Todas as comunidades Desano estão empenhadas em contribuir com as atividades do projeto. Muitos de nós, Desanos, estão preocupados com a questão da revitalização e preservação da língua nas comunidades. Por isso, nós decidimos que iremos começar a focar na revitalização da língua entre a família, ao invés de depender apenas das atividades desenvolvidas nas poucas escolas existentes, que são poucas e sem infra-estrutura. Mas esperamos que isso mude com a iniciativa do projeto nas comunidades.

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