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Ikpeng

 

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Povo

Localização PopulaçãoHistória | Oranização Indígena

 

Localização

Em 1964, quando se deu o contato com os não índios, os Ikpeng moravam na região dos rios Jatobá e Batovi, afluentes do rio Xingu. Em 1967 foram trazidos para o Parque Indígena do Xingu pelos irmãos Villas-Boas, devido à situação de fragilidade das condições de saúde da comunidade e da ameaça das frentes de colonização na região. Dentro do Parque, os Ikpeng moraram em vários lugares e apenas em 1985 construíram a aldeia Moygu, próxima ao posto indígena Pavuru, na região do médio rio Xingu, onde estão até hoje.

O território tradicional, na região do rio Jatobá, vem sendo reivindicado não só pelo elo emocional e histórico da comunidade com o local em que nasceram e cresceram algumas pessoas mais velhas, mas também por se tratar de um lugar único e necessário para a memória, história e identidade cultural Ikpeng, como: sepulturas, aldeias antigas e o complexo de lagoas da região. Outra forte motivação dos Ikpeng em recuperar seu antigo território são os tipos de recursos naturais particulares da região do Jatobá e necessários para várias práticas culturais (artesanato, práticas de pesca, tipo de alimentação). No antigo território do rio Jatobá existem diferentes tipos de frutas que não existem no Parque Indígena do Xingu, assim como alguns tipos de animais (abelhas e peixes). Além disso, os tipos de terra também são diferentes e por isso alguns recursos medicinais que eram plantados naquela região não o são mais. As práticas de pesca mudaram, assim como a confecção de flechas que necessitam de um tipo específico de taquara que só é possível de ser encontrado na região do Jatobá. O mesmo acontece com um tipo de brinco feito com conchas específicas daquela região.

A Terra Indígena Parque do Xingu foi oficialmente criada em 1961, mas sua homologação só ocorreu em 1991. Nesta terra vivem 14 povos indígenas: Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinaku, Nahukuá, Trumai, Waura e Yawalapiti, que compreendem o complexo sociocultural altoxinguano, e também os Kaiabi, Kisêdjê e Yudjá, além dos Ikpeng. O Parque possui a extensão de 2.642.003 mil hectares e representa uma área de conservação única da biodiversidade que agrega biomas de transição do cerrado para Amazônia. O Parque é reconhecido internacionalmente pelo sistema singular sociocultural altoxinguano que apresenta várias semelhanças de visões de mundo, práticas culturais e intenso intercâmbio de trocas sociais e matrimoniais apesar das diferenças linguísticas destes povos.

Apesar do processo de regularização do Parque do Xingu ser antigo, a terra indígena sofre constantes invasões de caçadores, pescadores e madeireiros, além de sérios problemas ambientais como a contaminação das águas dos rios por agrotóxicos das fazendas no entorno do Parque, causada pelo processo de ocupação predatória. Somado a tudo isso, acrescenta-se a preocupação com fluxo das águas do rio Xingu, uma vez que as nascentes dos formadores deste rio estão localizadas nas fazendas de agronegócio, ou seja, fora dos limites da terra indígena.

A comunidade Ikpeng se destaca nas atividades de fiscalização e controle do território do Parque, sempre repreendendo e expulsando os invasores.

A reivindicação do território tradicional dos Ikpeng na região do rio Jatobá já consta como um processo na FUNAI que criou, através da Portaria nº 1231 de 22/09/2006, o Grupo Técnico que está elaborando os estudos de identificação e delimitação da área.

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População

Antes do contato com a população nacional, os Ikpeng habitavam as regiões do rio Batovi e depois do rio Jatobá, ambos afluentes do rio Ronuro. No inicio da década de 1960, a população era cerca de 125 a 130 pessoas. (MENGET, 2001). Nesse período, foram atacados pelos índios Waurá que invadiram a aldeia Ikpeng com armas de fogo e mataram 12 pessoas. O motivo do ataque era o resgate de duas crianças Waurá que haviam sido sequestradas pelos Ikpeng anteriormente. Entre esse episódio e o contato com os não-índios, que aconteceu em 1964, através dos irmãos Cláudio e Orlando Villas Boas, outras mortes sucederam em decorrência, tanto de outros ataques de etnias inimigas, quanto por epidemias, principalmente de gripe que dizimou quase metade da população da época.

Em 1967, por conta da ameaça de invasão de garimpeiros às suas terras, os Ikpeng foram transferidos para dentro dos limites do Parque Indígena do Xingu. Nessa ocasião, sua população era de apenas 56 pessoas. No ano seguinte, ocorreram seis mortes e apenas um nascimento (MAIA et alli, 2004). Segundo Menget (2001), nos dois anos seguintes ocorreram apenas dois nascimentos. No entanto, a medida que os Ikpeng foram se adaptando ao seu novo lar, essa situação também foi sendo modificada e ano de 1970, a população contava com 67 membros.

De acordo com dados retirados de MAIA et al 2004, num período de 19 anos, a população Ikpeng teve um crescimento de mais de 400%, passando de 67 para 279 indivíduos. Em 2001, a população era de 302 pessoas e em 2006, constava de 342, de acordo com dados da FUNASA.

Hoje, após quatro décadas de habitação no Parque Indígena do Xingu, a população Ikpeng consiste de 459 pessoas – segundo dados da UNIFESP (2010) – o que significa um aumento populacional de mais de 800%. Esse crescimento é uma consequência do aumento da taxa de natalidade e diminuição da taxa de mortalidade no período. Além desses dois fatores, deve-se considerar também o aumento da longevidade da população. Em 1970, apenas 1,5% da população tinha mais de 50 anos; em 1999, os idosos eram 6,5% da mesma (MAIA et alli, op. cit.); e segundo dados de um questionário aplicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em 2009, para a realização de um diagnóstico sociolinguístico da comunidade, cerca de 7,8% da população possui mais de 50 anos de idade.

Referências Bibliográficas:
MENGET, P. Em nome dos outros: classificação das relações sociais entre os Txicão do Alto Xingu. Lisboa. Museu Nacional de Etnologia, Assírio e Alvim, 2001.

MAIA, S et alii. A recuperação populacional dos Txicão (Ikpeng) Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil. In: XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2004, Caxambu. Anais do XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu: ABEP, 2004.

Site Consultado:
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/ikpeng/608

 

História

Os relatos orais dos Ikpeng afirmam que seus antepassados viveram em uma região entre o baixo rio Amazonas, que eles chamam de Ikpa, e o baixo Xingu. Essa informação coincide com pesquisas linguísticas que identificam a língua Ikpeng como descendente de um grupo linguístico Arara, dentro da família Karib, composto, além dos Ikpeng, pelos grupos Arara (Ukarãngmã), Yarumã (extinto) e Apiaká (extinto) e que, segundo estudos etnohistóricos, ocuparam a região interfluvial entre os rios Xingu, Tapajós e baixo Amazonas e criaram um complexo sociopolítico e ritual específico. Essa sociedade de grupos Arara teria se diluído e migrado para o norte em função dos ataques Kayapó que por sua vez foram pressionados pela expansão colonial ao longo dos rios Tocantins e Araguaia. Nessa separação, os Ikpeng seguiram para oeste e depois para o sul, pelos rios Iriri e Teles Pires – onde permaneceram até meados do século XIX – e posteriormente seguiram para o rio Xingu onde subiram até os seus afluentes Ronuro, Batovi e Jatobá, sendo neste último o local do contato com os não índios.

Os Ikpeng acreditam, assim como os Arara (Ukarãngmã), que sua origem está associada a uma briga ocorrida no céu, que fez com que se separassem e uma parte das pessoas fossem obrigadas a viver no chão, criando assim o mundo terreno onde estão até hoje. Apesar de terem incorporado alguns aspectos culturais do alto Xingu, como a espacialidade da aldeia em forma circular, com várias casas distribuídas em um pátio central, os Ikpeng mantêm o padrão Karib de habitação que se baseia em apenas uma grande residência, a do cacique, que concentra todos os eventos rituais.

A floresta, a caça e a guerra são essencialmente importantes no mundo Ikpeng. Embora hoje em dia não pratiquem mais a guerra, este povo guarda em sua memória momentos gloriosos de lutas com outros povos e ainda hoje alguns artefatos de guerra são preservados por eles. O principal ritual Ikpeng é o Pomeri que se assemelha muito ao ritual Ieipari do povo Arara (Ukarãngmã) e ocorre sempre de dois em dois anos onde são inscritas as tatuagens faciais das crianças. Essas tatuagens eram traços característicos dos grupos linguísticos Arara, mas apenas os Ikpeng mantêm essa prática até os dias atuais. Os rituais do Pomeri são muito marcantes na vida e na memória individual e coletiva da sociedade Ikpeng, pois são marcadores históricos importantes que orientam e explicam, por exemplo, o tempo vivido em uma antiga aldeia, região de caçada de um determinado Pomeri, número de pessoas tatuadas, etc.

O xamanismo é outro aspecto cultural Ikpeng que está associado a uma prática sociopolítica e uma dinâmica social igualitária e não-hierárquica. “O plano sociopolítico Ikpeng combina equivalência e incompatibilidade, o que reflete a lógica da substituição difundida em seu pensamento cosmológico, onde posições, agências, subjetividades são continuamente substituídas e renovadas alhures e por outros. Trata-se, essencialmente, de um ethos nomádico, que concebe a modelagem arquitetural (a configuração maloca/líder) como um modo particular, não totalizante.” (Rogers, David, pp. 96).

Filme sobre a história do contato com o brancos

 

Organização Indígena

Logo Moygu

“A Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng (AIMCI) é uma associação sem fins lucrativos que representa o povo Ikpeng.

A Associação Moygu tem seu objetivo de preservar a cultura, território e o ambiente xinguano, bem como prestar assistência na área de educação e saúde, e no desenvolvimento das atividades produtivas.Para a consecução de seu objetivo, a associação poderá: 
a- Adquirir, construir ou alugar os imóveis necessários as suas instalações administrativas, tecnológicas, culturais e de produção; 
b- Promover o beneficiamento ou a industrialização da produção e servir de assessora ou representante dos associados na comercialização de produtos e insumos; 
c- Manter serviços próprios de assistência médica, dentista, recreativa e educacional ou, com este mesmo objetivo, celebrar convênios com qualquer entidade publica ou privada; 
d- Promover a vigilância e a fiscalização da área indígena; 
e- Normatizar e controlar o ingresso de pessoas na Aldeia Ikpeng; 
f- Contratar, comercializar as atividades culturais Ikpeng sob a forma de artesanato, fotografias, filmes e apresentações; 
g- Realizar seminários, encontros e debates sobre a cultura indígena; 
h- Filiar-se a outras entidades congêneres, em nível regional ou estadual, sem perder a sua individualidade e poder de decisão; 
i- Desenvolver parcerias, intercâmbios, projetos e convênios com instituições governamentais e não governamentais para a realização de projetos pontuais ou programas de médio e longo prazos.” (http://www.ikpeng.org/quem_somos/associacao.php )

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