Localização | População | História | Organização Indígena
Os Karajá são habitantes imemoriais da bacia do rio Araguaia, na ilha do Bananal e cercanias, compreendendo um território que abrange as fronteiras entre os estados de Tocantins, Pará, Mato Grosso e Goiás.
Maior ilha fluvial do planeta, com cerca de vinte mil quilômetros quadrados de extensão, a ilha do Bananal é formada pela bifurcação do rio Araguaia em um braço menor, o rio Javaés, que, depois, cerca de 340 km adiante, volta a se encontrar com o Araguaia, já na divisa entre os estados do Pará e Tocantins.
Considerada um dos santuários ecológicos mais importantes do país, por encontrar-se na faixa de transição entre a floresta amazônica e o cerrado, abriga fauna e flora de grande diversidade.
A Ilha do Bananal é composta pela Terra Indígena Parque do Araguaia, que abrange toda a porção sul e boa parte da porção oeste da ilha até a latitude da cidade de Santa Terezinha (MT); pelo Parque Nacional do Araguaia, que abrange as porções norte e nordeste da ilha; pela Terra Indígena Inãwébohona, que se sobrepõe ao Parque Nacional do Araguaia, estando localizada na porção nordeste da ilha; e pela Terra Indígena Utaria Wyhyna/Iròdu Iràna, que também se sobrepõe ao Parque Nacional do Araguaia e está localizada na porção norte da ilha. Deste modo, toda a Ilha do Bananal é considerada pela constituição federal como terra da união, sendo o maior complexo de reservas existente no estado do Tocantins. Além dos Karajá, vivem na Ilha do Bananal os Javaé, os Tapirapé, os Tuxá e os Avá-Canoeiros.
Os Iny mahãdu, ou bero mahãdu, povo do rio, são o subgrupo mais numerosos, somando atualmente uma população de cerca de 3.200 pessoas (FUNASA, 2010) vivendo em 18 aldeias.
As aldeias de Santa Isabel do Morro (Hãwalò) e Fontoura (Btõiry), localizadas na margem ocidental da ilha do Bananal, banhada pelo rio Araguaia, na divisa com o estado de Mato Grosso, são as de assentamentos mais antigos e as maiores comunidades karajá, atualmente com cerca de 680 e 650 habitantes respectivamente.
Outras aldeias tradicionais são as de Krehãwa (São Domingos), Itxala, Macaúba, Buridina (Aruanã), Mirindiba e Maranduba. De assentamento mais recente, e menores, temos as aldeias de Wataù, Hãwalora, Ibutuna, Nova Tytema, JK, Teribrè, Awixe e Wrebia.
Os Karajá, habitantes imemoriais do Brasil Central, na bacia do Araguaia, na ilha do Bananal e arredores, constituíam, originalmente, grupamentos seminômades que se deslocavam pelos seus territórios, estabelecendo-se em acampamentos, de acordo com os ciclos periódicos das estações de chuva, cheias e estiagem, vivendo da pesca, da caça, da coleta e de sua agricultura de subsistência. Os anciãos, em seus relatos de memória oral, informam sobre contatos e conflitos com outros grupos indígenas, como os Kaiapó, os Xavante, os Xerente e os Avá-canoeiro, que resultaram em intercâmbios em diversos âmbitos culturais entre esses povos.
Os primeiros contatos com os tori, os não-índígenas, remontam há mais de três séculos, segundo atestam relatos históricos de missões jesuítas da província do Pará, como o deixado pelo Padre Tomé Ribeiro, que, em 1658 teria se encontrado com os Karajá, então chamados Karajahi, no baixo Araguaia. Outras frentes de contato, nem sempre amistosos, se deram, a exemplo dos que foram travados por expedições de bandeirantes no século XVIII, como as lideradas por Antônio Pires de Campos (1718 a 1746), muitas vezes marcados por hostilidades e violência, que deixaram muitos traumas nas populações indígenas de uma forma geral nesta época.
Os primeiros etnólogos a visitar a região do Araguaia e a descrever e estudar os povos indígenas aí encontrados foram os alemães Paul Ehrenreich, em 1988, integrante da expedição de Karl Von den Steinen ao Xingu, e Fritz Krause, já no iníco de século XX. Ambos deixaram extensos e preciosos relatos etnográficos dos Iny (Karajá, Xambioá e Javaé), e dos outros grupos indígenas da região, desta época. Recolheram e levaram muitos artefatos para os museus alemães.
A partir de meados do século XX, com a política de expansão do interior do Brasil promovido pelo presidente Getúlio Vargas, e o projeto de transferência da sede do governo federal para o Planalto Cantral, o rio Araguaia começou a receber crescente movimentação, por revelar-se excelente via fluvial para o interior do país. Nesta época os Karajá foram visitados pelo presidente Juscelino Kubistchek (1960) e diversos outros chefes de estado, o que lhes conferiu notoriedade e admiração como exótica cultura nativa. De tal modo Kubistchek se encantou com a região, que mandou construir uma base da FAB (Força Aérea Brasileira) próximo à aldeia de Hãwalò, Santa Isabel do Morro, e um imponente hotel de alto padrão de luxo na ilha do Bananal, o Hotel JK, próximo à cidade de São Félix do Araguaia. Posteriormente, já em declínio, por fraca movimentação, má administração e falta de conservação, o hotel se acabou em um grande incêndio. Ruínas e escombros deste hotel ainda podem ser encontrados no local.
Na mesma época, missões religiosas de procedências diversas se apresentaram nas aldeias Karajá oferecendo seus préstimos, como educação escolar e assistência médico-odontológica, em troca, naturalmente, da evangelização das “almas perdidas”.
Os contatos, cada vez mais frequentes e intensos, se transformaram em convívio. Ainda que mantendo com convicção seus costumes e tradições culturais, muitos Iny estão hoje integrados e inseridos na sociedade nacional. Dominam o português como segunda língua, ocupam cargos em instituições do estado brasileiro - são agentes de saúde, técnicos em enfermagem, enfermeiros, professores de ensino fundamental e médio, coordenadores, diretores escolares, advogados, vereadores. Muitos moram nas cidades da região. Conhecem e buscam se apropriar de bens e comodidades tecnológicas do mundo globalizado. Usam celulares, lanchas “voadeiras”, carros, motos. Têm RG, CPF, conta em banco, e-mail e participam das redes sociais na internet. São consumidores regulares no comércio das cidades próximas de suas aldeias onde frequentam restaurantes, clubes e LAN house. Não raro, viajam pelo Brasil e visitam as principais capitais, onde fazem apresentações de aspectos de suas tradições culturais e comercializam seu artesanato. Em suma, os Iny são plenos cidadãos brasileiros e estão antenados ao mundo globalizado contemporâneo.
O povo Iny vêm se concientizando cada vez mais sobre a necessidade de nos situarmos dentro da sociedade brasileira, afirmando a nossa identidade com orgulho e conduzindo nosso destino nos novos tempos. Temos procurado nos organizar em associações de cooperação coletiva, com o intuito de buscar soluções para os nossos problemas e melhorar as nossas condições de vida como cidadãos brasileiros.
A Associação Iny Bededyynana, que pode se traduzir como “cultura Iny”, foi criada em 2004, por iniciativa de Iwraru Karajá, com o intuito de promover entre os nossos jovens Iny a valorização das nossas tradições culturais. Através da produção de espetáculos de dança e música Iny para apresentações em aldeias, cidades e eventos pelo Brasil afora, o Iny Bededyynana, procura divulgar a nossa cultura e, ao mesmo tempo, promover o sentimento de orgulho Iny entre os jovens envolvidos nos projetos. Em 2007, com o apoio da Coordenação Geral de Educação da FUNAI, que ajudou a promover oficinas musicais na aldeia de Hãwalò, o grupo Iny Bededyynanagravou um CD com cantos Karajá, tradicionais e modernos.
A Coordenação Iny Mahãdu se estabeleceu como uma cooperativa de apoio ao trabalho das nossas mulheres artesãs, com o objetivo de ajudá-las na divulgação de seu trabalho e no escoamento de sua produção. Sob a coordenação de Samuel Yriwerana Karajá, a Iny Mahãdu opera um posto de venda, o centro Cultural Karajá Tapirapé, na cidade de São Félíx do Araguaia, e intermedia encomendas de lojas e instituições como museus nas cidades do Brasil e do mundo.
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