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Língua

A língua Apiaká é a língua original do nosso povo. Ela pertence à Família Linguística Tupi-Guarani do Tronco Tupi. Hoje em dia nós não dizemos que é a nossa língua materna porque a grande maioria fala somente o Português. Há muito tempo, em uma época em que nós trabalhávamos para os seringueiros e os madeireiros da região do Rio Tapajós, nós éramos obrigados a falar somente em Português sob o risco de sofrermos severos castigos e até de sermos mortos. Nós passamos a usar somente o Português não só porque era obrigatório, mas também porque queríamos entender aquele movimento e fazer parte dele. Mais tarde, percebemos que jamais seríamos parte dele, seríamos apenas escravos. Por isso decidimos fugir, mas já era um pouco tarde para a nossa língua.

Antes disso tudo acontecer, contam os velhos, houve uma grande convenção entre os Apiaká para decidir se ajudariam ou não o grupo de homens que subiam pelo Rio Tapajós em seus batelões. Como as opiniões estavam divididas, um grupo decidiu ajudar enquanto que o outro decidiu se afastar para o interior da mata. Nós acreditamos que esse segundo grupo ainda existe e permanece isolado, habitando a região sudoeste do Pará, em um dos braços do Rio Xingu, bem próximo ao Território Kapoto-Jarina dos Kayapó (Mebengokre). Os Kayapó já fizeram várias denúncias de ataques de índios desconhecidos às suas roças e aldeias. Segundo o relato deles, esses índios se parecem com os Kayabi mas, em uma tentativa de contato, os próprios Kayabi não os reconheceram, os índios não entenderam a língua dos Kayabi e fugiram para a mata.

Nosso grupo já acampou por aquelas matas do Pará para o reconhecimento do território e também para caçar. Nosso interesse maior era encontrar o grupo que dizem ser isolado. Conseguimos seguir algumas pisadas mas não encontramos ninguém. À noite, fizemos acampamento e deixamos algumas coisas como panelas, anzóis, fios de naylon perto do acampamento, em um dos caminhos. De madrugada, ouvimos pessoas chegando, conversando e rindo. Tivemos medo porque já não falamos mais a nossa língua original e não teríamos como entender se falavam Apiaká. Fizemos silêncio e esperamos que fossem embora sem nos atacar. Eles se foram. Na manhã seguinte, não havia mais panelas, anzóis nem fios de naylon. No lugar, havia uma cabeça de papagaio verde e uma ponta de flecha que nossos antigos reconheceram como sendo flecha Apiaká.

Por isso, a nossa esperança, de que ainda existem falantes de Apiaká, não morre. Nosso grande desejo é conseguir montar uma equipe para expedição que possa oferecer suporte aos únicos três velhos que ainda são falantes de Apiaká, para que eles possam se encontrar e conversar no nosso idioma.

Essa é a nossa realidade hoje: temos apenas três velhos que são falantes de Apiaká e que podem nos ajudar a resgatar a nossa língua. Temos conhecimento de que existem alguns estudos linguísticos que citam palavras em Apiaká e comparam com outras línguas. Foi assim que descobriram que Apiaká é língua Tupi-Guarani. Em 2006, recebemos a visita do linguista Alexandre Pádua. Ele estudou com o Sr. Pedrinho e escreveu uma dissertação de mestrado sobre os sons usados na pronúncia do Apiaká (cf. PADUA, 2007). A antropóloga Giovana Tempesta também escreveu muitas coisas sobre a nossa história e, durante seu trabalho (cf. TEMPESTA, 2009), nós também pudemos aprender sobre coisas que já havíamos esquecido. Giovana e Alexandre também produziram um livro didático para a escola da Aldeia Mayrob, o qual estamos esperando para podermos melhorar o ensino da nossa língua e, talvez, dar início ao resgate linguístico, que é um dos projetos coordenados por Cilene Campetela, propostos pelo Museu do Índio/FUNAI à UNESCO.

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